segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dorothy, confetes e silicones...


É... Fevereiro aos 40 graus e mais um carnaval chegando com toda aquela imposição absurda infernizando nossos sentidos. Confetes, serpentinas, "pierrots" e colombinas ao som de marchinhas hipnóticas e desfiles glamurosos. As cabrochas na avenida, a festa das organizações globo e seu teatro de silicones e botox. Tudo colorido, descompromissado, surreal. Esses malditos dias me fazem lembrar do filme "O mágico de Oz": um mundo cinza e insosso sendo atingido por um furacão que manda tudo pelos ares, fazendo os tripulantes aterrissarem num universo paralelo repleto de cores, brilhos e seres estranhos. Fadas, bruxas, espantalhos e macacos voadores cantando e dançando, seguindo a estrada dos tijolos amarelos rumo ao falso mago de poderes duvidosos. Tudo não passava de um sonho da pequena Dorothy. Pois é, carnaval...

Tenho poucas lembranças de carnavais, talvez por uma censura psíquica forte ou excesso de álcool. Me lembro que até gostava de ver os flashes televisivos da tal festa profana na Sapucaí, porém com o volume no mínimo (acho que naquele tempo não existia a função "mute"). É bonito, sem sombra de dúvida, não fosse pelo que está por trás dos bastidores. Os pancadões da bateria me incomodavam, eu simplesmente não conseguia me adaptar àquilo. Deixo bem claro que não tenho nada contra o verdadeiro samba. Apesar de não ser grande entusiasta do tal ritmo, entendo que figuras como Cartola e Noel, entre outros merecem o seu lugar ao sol. Os respeito enquanto peças estandartes da cultura brasileira. O samba do morro (vide Bezerra da Silva) é o equivalente nacional da voz do negro oprimido dos campos de algodão do sul da américa do norte. Agora samba-enredo é osso duro! Está certo que alguns trazem fatos históricos, críticas sociais e etecétera e tal, mas o negócio é repetitivo e mal interpretado, resumindo: um contundente pé no saco.

Já passei vários carnavais em São João da Barra, mas nos dias da batalha Congos x Chineses eu me enclausurava. Lembro que me juntava com os amigos e ficava no "velho Julhinho" ouvindo o bom e velho rock n' roll, jogando xadrez e derrubando garrafas de conhaque Domeq. Seríamos intelectuais demais para carnaval?? Não, talvez fosse porque não tivéssemos um videogame, nem mesmo televisão na maioria das vezes. Mas era opção nossa e enquanto não acabava, era a única.


O espetáculo da Sapucaí encobre o cenário sócio-econômico e político caótico de nosso país. Os problemas são esquecidos nessa época retornando com força total na ressaca da quarta de cinzas. A receita é perfeita: muito álcool + samba + mulheres semi-nuas = povo feliz feito crianças em propaganda de achocolatado. O circo está armado! O pão?? Ah... deixa que quarta-feira a gente resolve. Feliz de quem consegue tirar proveito disso. Um trecho da música "Mucama", do grupo de reaggae Cidade Negra, cantada por Gabriel o Pensador, reflete bem esse meu sentimento de indignação.


"Na quarta feira é a volta pra realidade que arde
Acaba a comemoração apaga a televisão pra não gastar a eletricidade
Como na Cinderela carruagem volta a ser abóbora
E na favela o carro alegórico some
E volta às sobras: sobra de feira, sobra de terra, sobra de chão
Sobra de lama, sobra de bala perdida e sobra de comida
Pra mucama, mucama que nada exclama, que não reclama, que não se inflama
Se acalma vendo novela, pois na tela todo mundo ama
Todo mundo, mas na vida real todo mundo se odeia
E ódio gera ódio, um sobe no pódio, outro serve a ceia
Ceia no natal, tem Xuxa no carnaval
Mucama deitada na cama beijinho beijinho pau pau. Tchau!
Eu só vou te usar, você não é nada pra mim
Já temos outra pra botar no seu lugar - Pirlimpimpim!
Abracadabra, é como mágica, mas não é abra-te Sésamo
Porque aqui as portas só se fecham
Bum! É menos uma oportunidade
Não é só a quarta-feira que é de cinzas, na verdade é a semana inteira
Quinta, sexta, sábado e domingo e segunda
E o povo mucama continua sorrindo levando nas coxas, levando na bunda
Mas não faz mal, porque depois melhora tudo... no Carnaval"

Boas festas aos foliões de plantão e até a próxima...

4 comentários:

  1. Acho o carnaval uma festa de babacas...Bom, uma festa de classe E, de pessoas s/ cultura, que gastam o que tem e o que não tem por 3 dias de folia, cachaçada, promiscuidade, sexo c/ qq pessoa, risco enorme de contágio pelo HIV... Enfim, não curto essa festa que tta gente cultua e idolatra... acho uma coisa s/ nexo... Depois, vem o "povo" reclamando de falta de alimentação, flata de boas escolas, falta de postos de saúde, falta e td... mas, ninguém pensa o qto é gasto nesses 3 dias de "folia"... Tem gente, que junta $$$ o ano todo só p/ ter 1 min de glória... Mas que glória??? Tive um convite p/ o camarote da PIER NO Cabo Folia e recusei... preferi ficar em casa, vendo tv... e, hj, se eu tivesse um convite p/ ficar no melhor camarote do sambódromo do RJ, ou em Salvador eu tbm recusaria, pois prefiro ficar em casa vendo tv, curtindo minha família a ir num lugar desses que não tem nada a ver comigo... Coisa mais idiota, ficar correndo atras de um trio elétrico, ficar horas numa arquibancada suando, gritando pra nada...P/ falar a vdd, o carnaval é a pior época do ano p/ todos os brasileiros que curtem essa festa de apelação e promiscuidade... tta gente morre, tta bla perdida... tta briga... ttos acidentes por nada...
    Vale a pena? Há quem pense que valha, mas, no meu ver, o carnaval não deveria existir... o $$$ que é gasto nessa festa poderia ser melhor direcionado... Direcionado p/ educação, p/ a saúde, p/ alimentar o povo... mas enfim, acho que o "povo" prefere PÃO E CIRCO... Carnaval, entretenimento de quem não pensa... de quem tem pouca ou nenhuma cultura...
    ODEIO CARNAVAL...
    VIVA O BOM E VELHO ROCK´N´ROLL!!!

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  2. A crítica à alienação ao Carnaval é válida. Especialmente num país que sofre de tantas mazelas como o nosso. E isso é falar de política. Interessante análise. Entretanto, só conheci o verdadeiro carnaval quando estive no Rio de Janeiro. Antes só conhecia aquela merda que vemos aqui no interior e em outras cidades e estados que privilegiam o axé. Carnaval não é axé... não é Salvador. Carnaval é samba. Samba do morro. Samba é cultura sim! Talvez a maior manifestação cultural do nosso país. O silicone, as bundas, o botox são outras questões que vem no rastro da coisa toda. Assim como a bebedeira, a drogadição, a promiscuidade, etc. Não dá pra culpar o samba por tudo isso. O samba merece seu dia. Merece desfilar na avenida e cantar sua história. A história do brasil, do índio, do negro ou da literatura. O que o capitalismo faz com o samba, de vender frisa na sapucaí a 50 mil reais são outros quinhentos... Existem mil fatores ligados ao carnaval. Alienação, alcoolismo, drogas, prostituição, sexo sem proteção, etc... mas vamos culpar o carnaval? Não vejo dessa forma. O Carnaval de nossa região segue a reza da Bahia: axé e confusão, pegação, desrespeito, brigas, e muita música ruim. O Carnaval do Rio resgata o bom e velho samba, tanto das escolas como dos velhos compositores. Não é à toa que a velha guarda dos sambistas estão nas escolas de samba. Temos que olhar mais a fundo por esse viés. Já passei carnavais ouvindo mto rock e jogando baralho, vendo mais de 2 filmes por dia... até conhecer o carnaval do rio. vale a tentativa. Bom carnaval ou bom descanço

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  3. Acho carnaval um pé no saco. Digo isso me referindo ao carnaval que acontece por aqui e na região. Já foi o tempo que saía de casa para ir a São João da Barra e ter que ficar a noite toda até sair o primeiro ônibus pela manhã. Era uma insanidade de minha parte. O pior é que nem curtia aquele alvoroço. E quando tinha desfile dos dois blocos locais então era pior ainda. Ficava louco pra o desfile acabar logo. Ficava enchendo a cara e sem curtir porra nenhuma.
    Já passei um carnaval no Rio, e lá é até legal. Gosto de marchinhas, antigos sambas enredos, blocos e coisas mais autênticas de antigos carnavais. Muito se fala em carnaval na Bahia - Salvador, Porto Seguro - mas jamais iria viajar quilômetros e gastar uma grana pra ouvir axé, um dos piores estilos musicais que conheço. Não tenho saco nem pra ver desfiles pela tv. Hoje em dia raramente eu paro pra olhar. Agora mesmo, enquanto digito, está passando os desfiles da Sapucaí, e eu estou aqui, ouvindo Velvet Underground.

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  4. A minha intenção aqui não foi a de culpar o carnaval por fatores ligados a ele ou não, mas sim tecer uma análise crítica sobre a instituição carnaval como um todo e não de região A ou B. O carnaval do Rio foi colocado em questão por ser o ícone da coisa toda.
    No Rio, todo dia é dia de samba, basta pegar uma noitada na Lapa em qualquer época do ano pra tirar a prova. Durante o ano inteiro, o samba anda lado a lado com outros estilos. caracterizando a diversidade cultural da região.
    O samba-enredo que conta a história do Brasil, até traz à tona as atrocidades cometidas no passado: a exterminação sumária dos índios, a escravização do negro, a miséria do nordestino e por aí vai. Até aí dá pra segurar, pois é uma forma de promover informação a uma parcela da população que não tem o menor incentivo a leitura. O problema, na minha opinião, é a amnésia temporária em relação as atrocidades do presente. O descaso dos governantes para com o povo, fome, desemprego e roubalheira. É aí que a instituição carnaval se torna veículo alienante e o povo aplaude de pé a ilusão de se viver como rei em terra de vassalo.

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